Um jovem,, ao encher uma bola de praia, apercebe-se que esta tem um pequeno furo.
- Isto precisa aqui de"Cura-Tudo". Tens?
- Não tenho, mas gostava!
[Vim a saber que afinal eu possuo "Cura-Tudo", do bom, e que curou completamente a bola...]
domingo, 30 de agosto de 2015
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
Quotidianos
A
maior desgraça que pode acontecer no quotidiano da vida tranquila em Mitande é
esquecer-se de por um balde de água ao sol, por volta do meio-dia.
É que depois chega-se à noite e que remédio teremos se não tomar banho em água fria.
E tomar banho de água fria não anima.
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
Miss Índia, a pasteleira
A
Miss Índia precisava de fazer um check-up total à sua saúde. Após 14 meses de
abandono a aranhas, pó, sol, crianças e outras espécies inimigas de qualquer
artefacto mecânico, a pequena sofria silenciosamente. Disse-mo logo nos
primeiros metros que caminhamos juntas, pelo que decidi fazer uma visitinha à
palhota onde está instalada a oficina mais próxima.
Tivemos
– eu e a Miss – o “privilégio” de ser atendidas pelo Mestre que diagnosticou
uma artrose no eixo da pedaleira e no cestinho da frente, uma má-formação no
banco e uma inércia crónica a paragens [esta eu já conhecia de outros tempos...
a Miss India, tal como todas as outras bicicletas Africanas, nunca aprendeu que
quando inicia uma viagem, alguma vez terá de parar. E para parar, os travões
precisam de funcionar, não se pode estar sempre a contar com o atrito da areia,
porque a areia poderá não existir num momento de aflição].
O
mestre iniciou os trabalhos. Aperto daqui, porrada dali, endireita aqui, puxa
acolá, ora com martelo, ora com picareta… tivesse a Miss voz e gritaria mais
que qualquer parturiente. Uma pancada mais forte para colocar um eixo novo e
parte-se a corrente.
-
C’um raio, então o papá agora partiu-me a corrente?
- ih
irmã! não tem problema, vamos arranjar aqui mesmo…
E
toca de começar a martelar na corrente e colocar próteses, e ensaiar na
pedaleira… agora ainda falta duas ligações… desmontar, tonar a montar, mais
martelada menos martelada… de novo ensaiar na pedaleira, agora está a corrente
grande de mais.
Eu
já impaciente e alguém diz:
-
Irmã, ele é o Mestre. Há-de conseguir arranjar isso aí.
- O
que me vale é que estou rodeada de mestres de obras feitas – respondo-lhes em tom de brincadeira.
Com
isto já o sol tinha dado lugar a um luar quarto-crescente, cuja luz não era
suficiente para continuar trabalhos de tanta precisão, e ninguém – nem mesmo
eu, estava disposto a ir buscar uma lanterna a casa. [só um à parte, Mitande
continua sem luz elétrica – e eu esqueci-me do ladrão dentro do carro, em
Portugal].
Voltei
hoje, já com a certeza que a Miss Índia iria ficar pior do que estava. Após uma
hora de trabalho a que assisti com muita desconfiança, entre consecutivas pancadas
e alguns esquecimentos que fui alertando Sua Excelência o Senhor Mestre
[aplicando todos os conhecimentos acerca do funcionamento mecânico de uma
pasteleira que adquiri desde que comecei a restaurar uma]. Por fim o Mestre
entregou-me a bicicleta, e eis que, após tanta porrada, a Miss estava como
nova.
Este povo é realmente especial!
Este povo é realmente especial!
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
Visitas em Mitande
8h17
da manhã. Dirijo-me de bicicleta até ao pátio dos visitados. Chego e desço da
bicicleta.
-“odi,
odi” [dá licença]
Alguns
olhares tiram-me todas as medidas possíveis e imaginárias, sem uma única
palavra. Dou uma olhadela pelo quintal. Uma velhinha, de rabo para o ar, varre do chão as folhas caídas da mangueira,
com um molho de ramos secos em jeito de vassoura. Dois patos e uma galinha
pavoneiam-se pelo quintal acabado de varrer, picando aqui e ali algum insecto
agora descoberto, vão depois molhar a goela numa bacia com água esquecida perto
da cozinha. Na cozinha outra mamã retira da panela raízes de mandioca acabadas
de cozer, com movimentos lentos, num ritual observado por mais de meia dúzia de
crianças que se batem na esteira, rindo. Vem um homem, ainda jovem mas com
certeza já pai de família, traz uma cadeira de plástico e convida-me a sentar.
Agora
na cadeira de honra e com o dono da casa sentado num saco de farinha vazio,
cuja cor se confunde com a terra em que repousa, inicia-se o ritual de
saudação.
-
Como está?
-
Estou bem, não sei como está.
-
Ah, aqui tudo bem…
-
Hum-hum
-
Hum-hum
Questiono
pelos membros do grupo que teriam supostamente sido convocados para uma reunião
naquela casa.
-
Mas ainda não chegaram.
Tudo
bem. Estou de férias e tirei a manhã para isto. Aprecio de novo a dinâmica da
casa. A mamã que se ocupava da mandioca pega nuns copos de vidro e mergulha-os
na bacia de água esquecida, onde antes os patos saciaram a sede. Começo a temer
o pior… copos de vidro num ambiente destes é mau presságio, e estas crianças
aqui ao lado, sentadas na esteira em vez de estarem a dançar atrás de uma
árvore, e nenhum dos membro do grupo ainda presente… Sim, cheira-me a potencial
diarreia se não inventar rapidamente uma desculpa.
Não
estava enganada. Não tardou que uma menina me trouxesse um púcaro de água cor
suspeita e duas formigas a boiar. Tento averiguar se porventura é chá, mas não
está a vaporear, pelo que muitas E.Coli vivem contentes e felizes
naquele púcaro, em harmonia com os seus familiares e amigos. Entregam o mesmo
ao papá sentado no saco de farinha. Os meus neurónios percorrem todas as
mentiras possíveis e imaginárias para não beber aquela água, enquanto aguardo
calmamente sentada na cadeira por algum gesto do papá. Vem de novo a menina,
com um prato tapado com outro prato e o tal copo de vidro com sumo TANG de pó.
Respiro de alívio quando vejo que se trata de mandioca cozida e não xima com
peixe seco do rio intragável. Autorizada pelo papá, e quando as crianças ao lado
também já foram servidas, lavo as mãos com a primeira água [seria quase pecado
não lavar as mãos, mesmo que lavar signifique, perante esta água, conspurcar-las] pego numa raiz de mandioca e como, tirando alguns grãos de terra
facilmente identificados, mastigando aqueles que não deu para separar.
Entretanto, seguindo as leis da lógica, presumo que a água laranja a que se
chama sumo foi, antes, igual à água que serviram para lavar as mãos, pelo que
vou procurando mentalmente uma desculpa para dar quando me alertarem para o
facto de ter um copo de sumo à frente e não lhe ter tocado.
-
Irmã, esse sumo aí. Não está a beber.
-
Sabe, de manhã eu não costumo beber líquidos.
Já
está. É uma desculpa estranha, mas com certeza não tão estranha como a cor da
minha pele.
Só para concluir, sobrevivi a mais esta.
domingo, 23 de agosto de 2015
De volta a Mitande
Como
é bom chegar ao destino!
Depois
de milhares de kms de avião, esperas eternas em aeroportos, na esperança de
voos que afinal não existem [que LAM, na realidade, significa “Later And Maybe”],
uma noite passada [contrariada] num hotel de 4 estrelas por conta da companhia
aérea, um encontro feliz e um passeio rápido por um bairro da Beira, um chichi
em Tete, um desencontro no Aeroporto de Lichinga, uma viagem apoeirentada pelos
200kms que separam a cidade mais próxima de Mitande num chapa que a cada
momento parava para verificar o ar no pneu, afirmando não ter suplente …
E
aqui estamos. Finalmente Mitande.
E
como é bom saber que os pequenitos não me esqueceram.
E
falar a língua
E a
abraçar aqueles que pensei nunca mais ver.
E
ver filhos de casais que me pediram ajuda pois não conseguiam engravidar.
E
perceber que, infelizmente, há gente a depender de mim para ter medicamentos de
uso crónico [ex. epilepsia]
E
como é bom ver que até duas simpáticas osgas me vieram dar as boas vindas ao
quarto e percorrem as paredes na busca de mosquitos que devoram de uma só
linguada, para me protegerem da malária.
sábado, 22 de agosto de 2015
Da saga: "Só no Niassa se ouve disto":
-“Vou
só ali despedir o Bispo”, diz a empregada da casa episcopal, com todas as
letras, dirigindo-se ao Gabinete do Reverendo.
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