Hoje, terça-feira, início de semana em Moçambique,
porque ontem celebrou-se o dia-depois-do-dia-da-mulher-moçambicana (que quando
um feriado calha ao fim-de-semana, a 2ª é folgada. Queriam, não queriam?!). Na
chegada ao serviço, vejo a amiga M., aquela senhora da limpeza, com uma cara de
sofrimento: “hoje estou muito mal, dor de barriga. Enfermeira fazer partos hoje”.
Vamos a isso. Fardo-me a correr e vou observar as duas parturientes: uma
primigesta, que iniciou o TP em casa e, devido recomendações menos saudáveis, trás
o períneo numa miséria, e outra, que consultei na 6ª feira, com a criança à
minha espera para nascer. Calço luvas e “força mamã” (aqui toda a mulher é
chamada de mamã)… Como se fosse a coisa mais natural do mundo, recebo nas mãos a
criança mais linda que podem imaginar (mesmo mesmo a MAIS LINDA!... estão a ver
a bebé mais linda que já viram? Esta era bem mais linda...) tão fácil (tirando a
circular à volta do pescoço, mas que não causou problemas), e, ao mesmo tempo,
tão único. Uma menina, não muito revoltada com o mundo, só chorou mesmo para que
eu não me preocupasse com ela, nascida “para a eterna novidade do mundo”. Envolvo
a criança numa capulana, e, para cortar o cordão, à falta de pinças, o
improviso fala mais alto… Já pensaram que aquele rebordo grosso de uma luva de látex
é forte o suficiente para fazer um garrote num cordão?! Eu aqui estou sempre a
aprender…
Gostava de ficar um pouco mais com a criança, mas depois
dos cuidados essenciais, volto para as consultas de saúde materna, onde mal sei
que 37 mulheres me esperam para serem atendidas naquela manhã (malditos feriados
e malditos fins-de-semana!). No meio das consultas, a mamã que deu
à luz vem ter comigo: a criança chama-se Pitiria, e vão para casa entretanto [e
eu nem uma foto tirei, nem trouxe a roupinha que tinha reservada para o meu
primeiro parto! :( … Fica prometido que sempre que vierem ao hospital me
mostram a pequena]. Entre umas consultas e outras, falta-me um papel e procuro
no armário… uma aranha semelhante aquelas que aparecem nos programas da National Geographic, enorme, às bolinhas
brancas, passeia pelos papeis que estão no armário; sinto pulsar veneno dentro dela [não me venham cá dizer que estou feita ocidental, mas quê, não gostei da
presença daquele ser vivo ali]… fica prontamente decidido que não irei precisar
de nada do que está no armário. Às 3h da tarde, termino finalmente as consultas. A
primigesta em TP foi transferida para Mandimba, aqui não conseguiríamos resolver
a situação; e eu, na minha bicicleta, transfiro-me para casa. Primeiro banho,
depois almoço. Faço um pouco de ricoffe (o mais parecido com café que tenho à
disposição), e vou bebé-lo para o pwarô.
A meio do meu “café”, aparece o amigo L., um leproso, a quem tenho feito tratamento
de uma úlcera. Lá largo o café a meio e trato do assunto. Termino o café, vou
buscar água ao furo, uma barra de sabão e toca de lavar a farda, que amanhã é
outro dia de trabalho, e daqui a pouco aparece a menina da conjuntivite para
lhe por tetraciclina.
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