terça-feira, 9 de abril de 2013

E a Pitiria veio ao mundo.



Hoje, terça-feira, início de semana em Moçambique, porque ontem celebrou-se o dia-depois-do-dia-da-mulher-moçambicana (que quando um feriado calha ao fim-de-semana, a 2ª é folgada. Queriam, não queriam?!). Na chegada ao serviço, vejo a amiga M., aquela senhora da limpeza, com uma cara de sofrimento: “hoje estou muito mal, dor de barriga. Enfermeira fazer partos hoje”. Vamos a isso. Fardo-me a correr e vou observar as duas parturientes: uma primigesta, que iniciou o TP em casa e, devido recomendações menos saudáveis, trás o períneo numa miséria, e outra, que consultei na 6ª feira, com a criança à minha espera para nascer. Calço luvas e “força mamã” (aqui toda a mulher é chamada de mamã)… Como se fosse a coisa mais natural do mundo, recebo nas mãos a criança mais linda que podem imaginar (mesmo mesmo a MAIS LINDA!... estão a ver a bebé mais linda que já viram? Esta era bem mais linda...) tão fácil (tirando a circular à volta do pescoço, mas que não causou problemas), e, ao mesmo tempo, tão único. Uma menina, não muito revoltada com o mundo, só chorou mesmo para que eu não me preocupasse com ela, nascida “para a eterna novidade do mundo”. Envolvo a criança numa capulana, e, para cortar o cordão, à falta de pinças, o improviso fala mais alto… Já pensaram que aquele rebordo grosso de uma luva de látex é forte o suficiente para fazer um garrote num cordão?! Eu aqui estou sempre a aprender…
Gostava de ficar um pouco mais com a criança, mas depois dos cuidados essenciais, volto para as consultas de saúde materna, onde mal sei que 37 mulheres me esperam para serem atendidas naquela manhã (malditos feriados e malditos fins-de-semana!). No meio das consultas, a mamã que deu à luz vem ter comigo: a criança chama-se Pitiria, e vão para casa entretanto [e eu nem uma foto tirei, nem trouxe a roupinha que tinha reservada para o meu primeiro parto! :( … Fica prometido que sempre que vierem ao hospital me mostram a pequena]. Entre umas consultas e outras, falta-me um papel e procuro no armário… uma aranha semelhante aquelas que aparecem nos programas da National Geographic, enorme, às bolinhas brancas, passeia pelos papeis que estão no armário; sinto pulsar veneno dentro dela [não me venham cá dizer que estou feita ocidental, mas quê, não gostei da presença daquele ser vivo ali]… fica prontamente decidido que não irei precisar de nada do que está no armário. Às 3h da tarde, termino finalmente as consultas. A primigesta em TP foi transferida para Mandimba, aqui não conseguiríamos resolver a situação; e eu, na minha bicicleta, transfiro-me para casa. Primeiro banho, depois almoço. Faço um pouco de ricoffe (o mais parecido com café que tenho à disposição), e vou bebé-lo para o pwarô. A meio do meu “café”, aparece o amigo L., um leproso, a quem tenho feito tratamento de uma úlcera. Lá largo o café a meio e trato do assunto. Termino o café, vou buscar água ao furo, uma barra de sabão e toca de lavar a farda, que amanhã é outro dia de trabalho, e daqui a pouco aparece a menina da conjuntivite para lhe por tetraciclina.

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